sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CIBERESPAÇO E A ARQUITECTURA DOS «NÃO LUGARES» HABITADOS POR «HOMENS SEM QUALIDADES»

Hugo Ferrão *

A criação do termo cyberespace (ciberespaço) é atribuída a William Gibson  autor  do livro  de  ficção  científica  cyberpunk - Neuromancer (neuromante)  (1984),   no   qual esboça   a   ideia   de   ciberespaço,   sendo posteriormente   apropriada   pela comunidade   científica   norte-americana como potencial campo-espaço cibernético no qual confluem todos os media digitalizados,  libertando  uma  memória  colectiva incomensurável  de  um rigor nunca atingível pela mente humana. 

William Gibson associa a origem do ciberespaço aos ancestrais jogos electrónicos  e  aos «jogos  de  guerra»  desenvolvidos  pelos  programas  das instituições  militares,  duranteo  período  da  «guerra  fria»,  programas  esses apoiados  na  investigação  científica  e inovação  tecnológica  de  ponta.  Esta estratégia  tornou-se  mais  visível  e  conhecida nos  Estados  Unidos,  e concretizou-se  através  projectos  como  a  ARPA  -  Advanced  Research  and Projects  Agency,  (1957)  da  NASA  -  Nacional  Aeronauticas  and  Espace Administration  (1958)  ou  da  ARPANET  em  1969  e  no  envolvimento  de algumas universidades com  o  objectivo  de  organizar  oceanos  de  dados, realizar o seu tratamento de forma a que a informação resultante permitisse reagir  rapidamente  em caso  de  ataque  nuclear.  Gibson  define  ciberespaço em Neuromante da seguinte maneira:

«O  ciberespaço.  Uma  alucinação  consensual,  vivida  diariamente por  biliões  de operadores  legítimos,  em  todas  as  nações,  por  crianças  a quem  se  estão  a  ensinar  conceitos  matemáticos.  Uma  representação gráfica  de  dados  abstraídos  dos  bancos  de  todos  os  computadores  do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz alinhadas no não espaço da mente; nebulosas e constelações de dados. Como luzes de cidade, retrocedendo.»

O grau de complexidade subjacente à ideia de ciberespaço tem a sua raiz conceptual no sufixo «cyber», (ciber) que nos projecta numa dimensão «imaginotécnica»,  indissociável    da    artificialidade    do    pensamento cibernético,  cuja  particularidade  reside  na construção  de  modelos  em qualquer  domínio  do  conhecimento,  indiferentemente das  categorias  pré-estabelecidas,   provocando   a   contaminação   e   interligação   de  áreas aparentemente  afastadas,  congregando  múltiplas  constelações  disciplinares que fazem parte do conhecimento humano.

O  conceito  de  cybernetics  (cibernética)  é  da  autoria  de  Norbert Wiener (1894 -1964),  um  matemático  norte-americano  que  publica  através do   Massachusetts Institute   of   Technology,   (1948)   o   livro   intitulado Cybernetics,  or  Control  and Communication  in  the  Animal  and  the Machine, elaborando uma teoria de comando e comunicação aplicável tanto à  máquina  como  ao  homem,  este  mesmo  livro  é posteriormente  (1961) complementado com uma segunda parte, na qual encontramos o capítulo XI - Sobre Máquinas que Aprendem e se Autoreproduzem, onde faz um alerta para o elevado risco e nível de complexidade das futuras máquinas: [...] 

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  Cyberpunk,  é  o  termo  que  denomina  uma  corrente  literária  de  ficção  científica  que caracteriza  a  cibercultura  das  décadas  de  80  e  90  da  qual  fazem  parte  William  Gibson, Bruce  Sterling,  John  Shirley,  Mark  Dery,  Michael  Swanwick  e  Walter  Jon  William. Cyberpunk  está  também  associado  à  identificação  de  um  movimento  essencialmente informático,  uma  «tribo  electrónica»  com  posicionamento  de  contra-cultura  fortemente sustentado. 

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