ÉTICA, TECNOLOGIA E INFORMAÇÃO: O MITO DO PROGRESSO[1]
GILBERTO DUPAS[2]
No alvorecer do século XXI, o paradoxo está em toda parte. A capacidade de produzir mais e melhor não cessa de crescer, mas traz também consigo exclusão, concentração de renda e subdesenvolvimento e graves danos ambientais. Como equilibrar os benefícios potenciais da genética, da robótica e da nanotecnologia contra o perigo de desencadear um desastre que comprometa irremediavelmente nossa espécie? As conseqüências negativas do progresso, transformado em discurso hegemônico, acumulam um passivo crescente de riscos graves que podem levar de roldão o imenso esforço de séculos da aventura humana para estruturar um futuro viável e mais justo para as gerações futuras.
Seria uma insensatez negar os benefícios que a vertiginosa evolução das tecnologias propiciou ao ser humano no deslocar-se mais rápido, viver mais tempo, comunicar-se instantaneamente, e outras proezas que tais. Mas trata-se aqui de analisar a quem dominantemente esse avanço serve e quais os riscos e custos de natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie que ele está provocando; e que catástrofes futuras ele pode ocasionar. Mas, principalmente, é preciso determinar quem escolhe a direção desse progresso e com que objetivos.
O que definitivamente consolidou a idéia contemporânea de progresso foi a revolução provocada por Darwin com sua Origem das Espécies, publicada após muita hesitação em 1859. A idéia de progresso também permeou a quase totalidade da obra de Hegel, estruturada sobre a dialética. Finalmente, no final do século XIX, Karl Marx também acreditou profundamente no progresso histórico e inexorável da humanidade para uma sociedade sem classes.
Mas após a queda do socialismo real, foi um capitalismo global triunfante, empunhando o desenvolvimento científico e técnico e seus avanços formidáveis, quem se apossou integralmente do conceito de progresso. Essa tentativa de resgate do sentido do progresso perdido entre os destroços das duas guerras mundiais e de suas trágicas conseqüências, durou pouco. O sinal de alarme mais estridente parece ter sido os ataques terroristas às torres de Nova York.
[1] Este ensaio baseia-se fundamentalmente no último livro do autor “O Mito do Progresso” (Editora Unesp).
[2]Gilberto Dupas é presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Coordenador-Geral do Gacint-USP, professor-visitante da Universidade de Paris II e autor de vários livros, entre os quais, Economia Global e Exclusão Social (Paz e Terra); Ética e Poder na Sociedade da Informação (UNESP); Hegemonia, Estado e Governabilidade (Senac); Tensões Contemporâneas entre o Público e o Privado (Paz e Terra); Atores e Poderes na Nova Ordem Global (Unesp) e O Mito do Progresso (Unesp).
Sem comentários:
Enviar um comentário